Considerações matemáticas

Conceitos Introdutórios

Propriedades físicas do ar

Apesar de insípido, inodoro e incolor, percebemos o ar através dos ventos, aviões e pássaros que nele flutuam e se movimentam; sentimos também o seu impacto sobre o nosso corpo. Concluímos que o ar tem existência real e concreta, ocupando lugar no espaço.

Compressibilidade do ar comprimido

O ar, assim como todos os gases, tem de ocupar todo o volume de qualquer recipiente, adquirindo o seu formato, já que não tem forma própria. Assim, podemos encerrá-lo num recipiente com volume determinado e, posteriormente, provocar-lhe uma redução de volume, usando uma de suas propriedades – a compressibilidade.

Ar-comprimido compressível e elástico:

compressibilidade_elasticidade_ar

O ar atmosférico permite reduzir o seu volume quan- do sujeito à ação de uma força exterior.

Elasticidade

Propriedade que possibilita ao ar voltar ao seu volume inicial, uma vez extinto o efeito (força) responsável pela redução do volume.

Difusibilidade

Propriedade do ar que lhe permite misturar-se homogeneamente com qual- quer meio gasoso que não seja saturado.

Expansibilidade

Propriedade do ar que lhe possibilita ocupar totalmente o volume de qual- quer recipiente, adquirindo o seu formato.

Princípios Básicos

  1. Pressão: no compressor;
  2. Fluídos: comportamento;
  3. Fluxo (de ar): pressão envolvida nos condutos;
  4. Trabalho: que vai realizar cada cilindro;
  5. Potência: requerida para realizar o trabalho.

Pressão

Atmosfera é a camada formada por gases, principalmente Oxigênio (O2) e Nitrogênio (N2), que envolve toda a superfície do planeta. Pelo fato de o ar ter peso, as camadas inferiores são comprimidas pelas camadas superiores. Assim, as camadas superiores são menos densas que as inferiores. Concluí- mos, portanto, que um volume de ar comprimido é mais pesado que o ar à pressão normal ou à pressão atmosférica.

Quando dizemos que um litro de ar pesa 1,293×103 kg ao nível do mar, significa que, em altitudes diferentes, o peso do ar tem valores diferentes.

A atmosfera exerce sobre nós uma força equivalente ao seu peso, mas não o sentimos, pois ela atua em todos os sentidos e direções com a mesma intensidade.

A pressão atmosférica varia proporcionalmente à altitude considerada.

pressao_atmosferica

Definição:

Pressão(P)=Força(F)Superfície(A) = [Pa] (Sistema Internacional: Pascal)

Para expressar pressão de um gás ou líquido, se considera 3 tipos de pressão:

intro_02

Pressão atmosférica:

intro_03

Unidades de Pressão:

São utilizadas diversas unidades de medida, conforme o país ou o tipo de ciência ou indústria.

kgf/cm2 – quilograma força por centímetro quadrado.

PSI – abreviatura de pounds per square inch – libras por polegada quadrada.

bar – é um múltiplo da Bária: 1 bar = 100 bárias. Bária é a unidade de pressão no sistema c, g, s, e vale uma dyn/cm2.

kPa – O pascal (símbolo: Pa) é a unidade padrão de pressão e tensão no SI. Equivale a força de 1 N aplicada uniformemente sobre uma superfície de 1 m2. O plural no nome da unidade pascal é pascals. O nome desta unidade é uma homenagem a Blaise Pascal, eminente matemático, físico e filósofo francês.

Torr = mm Hg – também chamado Torricelli, é uma unidade de pressão antiga, que equivale a 133,322 Pa. Surgiu quando Evangelista Torricelli inventou o barômetro de mercúrio, em 1643 e tem caído em desuso com o apare- cimento de tecnologia mais eficaz para a medição da pressão atmosférica e com a disseminação das unidades do sistema internacional de unidades.

OrigemConversão
1 bar10.000 N/m2
1 bar100 KPa
1 bar14,50 PSI
1 bar10.197 Kgf/m2
1 mm Hg1.334 mbar
1 mm H2O0,0979 mbar
1 Torr1 mm Hg abs (para vácuo)

Outra tabela:

kgf/cm2PSIbarkPa = KN/m2Torr=mmHg
114,2230,980610,9806027355185
0,0703010,068946,89460751,03752
1,0197814,504510,01750,0615
0,0101910,19780,0117,500615
0,001350,019330,0013330,1333221
0,11,422330,0980619,8060273,55185

Obs.: Pressão atmosférica se mede com um barômetro.

Pressão manométrica (relativa):

intro_04

O ar é muito compressível sob ação de pequenas forças. Quando contido em um recipiente fechado, o ar exerce uma pressão igual sobre as paredes, em todos os sentidos.

Por exemplo, quando estamos apalpando uma bola de futebol, percebe-se a mesma pressão, uma pressão uniformemente distribuída, sobre qualquer parte da sua superfície.

Relações matemáticas, lei de Blaise Pascal:

bomba_hidraulica.png

P=FA ou F=PA

Onde:

VariávelSistema InternacionalSistema MKS
F= ForçaN (Newton)kgf
P= PressãoPa (Pascal = N/m^2)hgf/cm^2
A= áream^2cm^2

Observações adicionais:

intro_05

Nota: pressão atmosférica padrão = 101.325 Pa (sob condições normais de temperatura e pressão: 0oC e 101.325 Pa (101325 Pa = 1,01325 bar = 1 atm = 760 mmHg).

Obs.: Atualmente a IUPAC (União Internacional de Química Pura e Aplicada) recomenda que o uso da pressão de 101.325 Pa seja descontinuado, recomendando desde 1982, o uso da atual pressão padrão, definida como uma pressão de 105 Pa (100.000 Pa exatamente).

Condições padrão de temperatura e pressão: mais atual, correspondem às condições de temperatura e pressão de 273,15 K (0 °C) e 100.000 Pa (100.000 Pa = 105 Pa = 100,0 kPa = 1 bar), respectivamente.

Diferentes sistemas de unidades:

SiglaNomeObs
[Pa]PascalSistema Internacional. 1[Pa]=1[N]1[m2].
[bar]BaresSistema CGS de unidades. Suas unidades-base são o centímetro para o comprimento, o grama para a massa e o segundo para o tempo. Foi adotado em 1881. 1 [bar] = 105 [Pa].
[atm]Atmosfera1 [atm] = 101.325 [Pa].
[Kgf/cm2]Quilograma-força por centímetro quadrado.Sistema técnico gravitatório.
[m.c.a.]Metro coluna de águaSistema técnico de unidades.
[PSI]Libra força por polegada quadrada.Sistema inglês. 1 [bar] = 14,5 [PSI]. 1 [PSI] = 6894,757 [Pa]
[inHg]Polegas coluna mercúrioSistema técnico inglês
[mmHg]Milímetros de mercúrio.Outro sistema. 1 [mmHg] = 133,322 [Pa]
[atm]Atmosfera1 [atm] = 101.325 [Pa]. Outro sistema.

 

Exemplo: Determinar a pressão absoluta Kgf/cm2 que se exerce ao aplicar uma força de 1,5 Kgf sobre um êmbolo que possui área de contato (superfície) de 0,001 cm2 ?

Solução:

Dados: {F=1,5[Kgf]A=0,001[cm2]

Aplicando as equações:

P=FA=1,5[Kgf]0,001[cm]=1500[Kgf/cm2]

Esta é a pressão relativa, a pressão absoluta é dada por:

Pabs=Patm+Pr

então:

Pabs=1[Kgfcm2]+1500[Kgfcm2]=1501[Kgfcm2]

 

Sobre Força:

Definição moderna: Segunda lei de Newton: F=dpdt, Onde: p se refere ao momento linear do sistema, e F a força resultante. Ambos são grandezas vetoriais. Num sistema com massa constante: F=dpdt=d(mv)dt Onde: m se refere à massa e v se refere à velocidade.

Ou mais simplesmente:

F=ma

Unidades:

SiglaUnidadeObs
[N]NewtonUnidade SI. 1 [N] = 1 Kgm/s2.
[Kgf]Quilograma-forçaComo a aceleração da gravidade é 9,8[m/s2], o peso de um corpo de 1 [Kg] é de aproximadamente 9,8 [N], ou seja: 1 [Kgf] = 9,8 [N].

 


Atenção:

Flambagem da haste

Algumas aplicações requerem atuadores de cursos longos. Se existe uma carga de compressão axial aplicada na haste, é preciso assegurar que os parâmetros de comprimento, diâmetro e carga estejam dentro dos limites de segurança para evitar a flambagem da haste.

barra_flambada.png

A flambagem ou encurvadura é um fenômeno que ocorre em peças esbeltas (peças em que a área de seção transversal é pequena em relação ao seu comprimento), quando submetidas a um esforço de compressão axial. A flambagem acontece quando a peça sofre flexão transversalmente devido à compressão axial. A flambagem é considerada uma instabilidade elástica, assim, a peça pode perder sua estabilidade sem que o material já tenha atingido a sua tensão de escoamento. Este colapso ocorrerá sempre em torno do eixo de menor momento de inércia de sua seção transversal. A tensão crítica para ocorrer a flambagem não depende da tensão de escoamento do material, mas sim de seu módulo de Young.

P_{{CR}} - carga crítica de flambagem: faz com que a peça comece a flambar. Unidade - N

Quando a flambagem ocorre na fase elástica do material, a carga crítica ( PCR ) é dada pela fórmula de Euler :(para instabilidade elástica):

PCR=πEILf2

Onde: E= módulo de elasticidade longitudinal do material, expressado em pascal; I= menor dos momentos de inércia da secção em m4; Lf= comprimento de flambagem da peça em metros.

Para determinar se uma peça irá sofrer flambagem ou compressão, temos que calcular o seu índice de esbeltez e compara-lo ao índice de esbeltez crítico. Esse índice de esbeltez é padronizado para todos os materiais.

Se o índice de esbeltez crítico for maior que o índice de esbeltez padronizado do material, a peça sofre flambagem, se for menor, a peça sofre compressão.

Determinação de Lf:

O comprimento equivalente livre de flambagem Lf usado na fórmula é determinado pela instalação. Para pino articulado em um dos lados (Euler caso 2) o comprimento livre Lf é o mesmo l entre as juntas. Para uma montagem com um lado livre e o outro fixo (Euler caso 1): Lf=2l:

flambagem_determinacao_Lf_01

Outros casos:

Casos:Observações
flambagem_determinacao_Lf_02_Casos 1,2 e 3: uma haste entre mancais será considerada como articulada em um dos lados. Assumir Lf=l (Euler caso 2)
_ Casos 4,5 e 6: o final da haste livre lateralmente assume Lf=2l (Euler caso 1)
- Caso 7: especial: Lf<2l
_ Caso 8: especial: Lf<1,5l
Obs.: Carga no avanço desenvolvida à pressão dada

Segue tabela exemplo de flambagem (fabricante IMI):

tabela_flambagem_IMI

Obs: (1) Fator de segurança, "s" = 5; (2) Tabela dos curos máximos em [mm].


Fluídos

Para ar: equação geral dos gases:

PV=nRT

Onde: P= Pressão (N/m2); V= Volume (m3); n= número de moles (quantidade de moléculas); R= constante universal dos gases: R=8,314[JmolK]; T= temperatura (Kelvin).

 

Propriedades de um sistema fechado baseado em gases (ar-comprimido; incompressível)

Isolando a cte R na eq.: PV=nRT teremos:

R=PVTn.

E então, num sistema de malha fechada, teremos:

P1V1T1n1=P2V2T2n2

Casos que se apresentam:

fluidos_casos

Exemplo: Seja um gás que inicialmente ocupava 15 cm3, é comprimido à uma temperatura constante até ocupar o volume final de 5 cm3. Se inicialmente se encontrava a uma pressão de 2 bares, qual será sua nova pressão depois que seu volume foi modificado?

fluidos_01

Solução:

DadosEstado InicialEstado Final
VolumesV1=15(cm3)V2=5(cm3)
PressõesP1=2(bares)P2=?(bares)

Como a temperatura é constante (sistema isotérmico), se aplica a eq.:

P1V1=P2V2

215=P25

P2=6(bares)

Lei geral dos gases perfeitos

As leis de Boyle-Mariotte, Charles e Gay Lussac referem-se às transformações de estado, nas quais uma das variáveis físicas permanece constante.

Geralmente, a transformação de um estado para outro envolve um relacio- namento entre todas. Assim, a relação generalizada é expressa pela equação:

P1V1T1=P2V2T2

De acordo com essa relação, são conhecidas as três variáveis do gás. Por isso, se qualquer uma das variáveis sofrer alteração, o efeito nas outras variáveis poderá ser previsto. Ver o Quadro 1.3, que relaciona o que acontece com a alteração de uma variável.

Note: Quando você enche uma bola ou pneu com uma bomba manual temos:

  1. Volume – permanece constante.
  2. Pressão – aumenta, pois a bola ou pneu fica mais “dura”.
  3. Temperatura – aumenta. Isto pode ser notado na base da bomba, que esquenta.

Fluxo (Q)

Conceitos matemáticos...

Pode ser definido como:

Q=VolumeTempo=Vt

fluxo_00

V=SL

onde: V= Volume e S= seção/superfície (m2); L=Comprimento.

v=Lt

Onde: v=Velocidade; t=tempo; L=Comprimento.

Lei da continuidade:

Q=SLt=Sv

Exemplo: Um fluído corre dentro de um tubo e sai no duto No. 2 a uma velocidade de v2=5(cm/s) e pelo duto No. 3 com uma velocidade de v3=2(cm/2) . -- ver figura à seguir. Determine o fluxo do fluído no ponto No. 1. Dados: considera que as seções transversais sejam: S2=2(cm2) e S3=6(cm2).

fluxo_01

Solução:

Assumindo que não haja perdas:

Q1=Q2+Q3

Q1=S2v2+S3v3

Q1=2(cm2)5(cm/s)+6(cm2)2(cm/s)

Q1=22(cm3/s)


Trabalho (W)

W=Fd

Onde: W= trabalho; F= Força; d=distância percorrida.

Se o trabalho for aplicado sobre um cilindo, então:

fluxo_02

Da pressão se obtêm:

P=FS, então: F=PS

Sendo que a Variação de volume: ΔV=Sd

Levando à:

W=PΔV

Trabalho 1(J)=1(Nm)=1(Pam3).

(J)=Joules.

Exemplo: Ao ingressar ar-comprimido num pistão de dublo efeito com pressão de 500 (KPa), este faz com que o êmbolo do cilindro se desloque 0,45 (m). Determinar o trabalho realizado pelo cilindro. Obs.: Considerar que a seção transversal do cilindro seja de S=12(cm2).

Solução:

Dados: P=500(KPa)d=0,45(m)S=12(cm2)

W=PΔV=P(Sd)

W=500×103(Pa)12×104102102(m2)0,45(m)

W=270(J)


Potência (P)

P(Potência)=W(Trabalho)t(Tempo)

Útil para determinar a potência que se requer de um compressor para distribuir e realizar trabalho com o ar-comprimido.

Também:

P(Potência)=pΔVt=pΔVf

Onde: p=Pressão; f=frequência ou número de ciclos/s.

Note: 1(W=Watt)=1(J)1(s)=1(Pam3)1(s)

Exemplo: Ao ingressar ar-comprimido num pistão de dublo efeito com pressão de 500 (KPa), este faz com que o êmbolo do cilindro se desloque 0,45 (m). Determinar o trabalho realizado pelo cilindro e a potência utilizada se todo o processo leva 3 (s). Obs.: Considerar que a seção transversal do cilindro seja de S=12(cm2).

Solução:

W=PΔV=P(Sd)

W=500×103(Pa)12×104(m2)0,45(m)=270(J)

então: P=Wt=270(J)3(s)=90(W)


 


Referências:

  1. Pneumática Básica, IMI Precision Engineering, Norgren Limited, 2015.
  2. Pavani, Sergio Adalberto; Comandos Pneumáticos e Hidráulicos, e-Tec Brasil (Escola Técnica Aberta do Brasil), Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, UFSM, Santa Maria - RS, 3a. ed., 182 p., 2010.

Sugestões de tópicos: atuadores (ou cilindros pneumáticos, válvulas, sensores, simulações (parte I); Exercícios de especificações de componentes; Índice geral